Não precisamos de muito planejamento para ir, Eu o Bizoto e o Rodrigo já havíamos combinado no final de semana anterior e a trip foi confirmada na tradicional pedalada de quarta à noite.
No sábado dia 26/05, saímos exatamente as 06:30. Frio de rachar com direito a geada cobrindo o gramado, nos dirigimos a BR 277 (km 82) sentido praias até o viaduto da Renaut (km 69), entramos no contorno Leste sentido SP (no km. 91) e neste trecho a temperatura deu uma despencada, pois estava entre -1 ou zero gr. Cº, porém a sensação térmica era de –10. O lado positivo foi o visual, pois a geada que cobria a vegetação dava uma bela visão dos campos cobertos com uma fina camada de gelo. Ainda, o tempo estava muito fechado por uma pesada serração que nos acompanhou até a entrada da Graciosa.
O contorno Leste é um caminho problemático para bikes, não pelas suas subidas (que são boas para a prática), mas pela quantidade de detritos de pneus estourados de caminhão. Estes detritos são pequenos fios de ferro que se tornam fatais para os pneus das bikes. Tirando este detalhe, que na minha opinião é péssimo para pedalar, o acostamento da estrada está muito bom, e a quantidade de carros e caminhões é bem inferior a da BR 277.
Após pararmos para lanchar e remendar um pneu que havia furado, pedalamos uns 20 minutos e depois do posto avistamos a entrada da Estrada da Graciosa (+ ou - km 61). Ali paramos para tirar um pouco das blusas (pois já fazia sol) e tirar umas fotos. Entramos na estrada e seguimos ao nosso destino que fica ao final da estrada velha na junção da nova. Ao avistar a entrada fomos em direção à chácara que é usada como base pelas pessoas que querem subir o Mãe Catira ou o Sete. Nesta chácara estão ruínas de uma casa antiga, cercadas de lendas, que fora construído ao final da 2a. Guerra Mundial por alemães foragidos. Esta é a única história que sei sobre estas ruínas.
Também na chácara, encontramos o caseiro o qual o nome eu esqueci, mas lembro bem de seu apelido: “Espalha-Brasa”. Gente Boníssima e de uma boa prosa, conversamos um pouco sobre o cume, sua altura, se vai gente dia de semana e etc. Deixamos as bikes acorrentadas atrás de sua casa e nos dirigimos ao inicio da trilha.
A trilha para o Mãe Catira inicia-se a uns 50 mt à direita da chácara-base, andando em direção a um rio (não o vi, mas o ouvi), um pouco antes de chegar a este rio observa-se o inicio da trilha, que não é tão bem visível e na verdade parece até uma pequena trilha de tatu adentrando ao mato.
A subida do Mãe Catira não é difícil, assemelha-se em parte com o início da trilha frontal do Marumbi, em parte com a parte das raízes do Pico Paraná, mas não tem um alto grau de dificuldade.
A trilha é mais bela e mais selvagem que os demais caminhos que conheço (com exceção do Ciririca), tendo árvores de grande porte ao lado da trilha, inclusive uma que nos chamou a atenção por parecer uma mulher de pernas abertas.
Até a metade do caminho cruzamos com três córregos, sendo o último cercado de bambus(o que parece ter bastante pela região) e com água bem limpa. Após subirmos 2/3 do caminho, passa-se por um “mini jardim” de bromélias gigante (uma espécie de bromélia que atinge cerca de um metro), que se não tomar devido cuidado ela pode cortar fundo sua pele causando dor e sangramento.
Já ao final do caminho estávamos bem cansados, pois havíamos pedalado 50 km e estávamos subindo há cerca de duas horas. Nestas horas o topo parecia que nunca chegava, e a certa altura tivemos que pegar um atalho no meio do mato para subir em um outro morro que nos dava uma visão mais ampliada do conjunto. A fase final é a melhor parte do trajeto, apesar de a trilha estar se fechando e o mato estar encobrindo o caminho, começam a parecer às janelas e os outros cumes que fazem parte do conjunto, dando-nos uma boa visão em sentido norte e oeste. Porém, nesta parte final, em várias ocasiões tivemos que colocar os braços em frente do rosto para não sermos “chicoteados” pelos galhos. O Rodrigo, que estava de camiseta de manga curta, reclamou muito dos “riscões” nos braços e há certa hora vi que havia riscos de sangue em seu braço, o que ele nem ligou.
Chegamos ao Topo após 2 horas e quarenta minutos de caminhada (bastante para um pico de nível fácil/meio). O topo do Mãe Catira é “meio estranho” para quem está acostumado com os do Pico Paraná, Ciririca ou Marumbi. Pois nestas montanhas o topo é completamente nu, no sentido em que não há árvores de pequeno e médio porte, apenas uma vegetação rasteira e mui resistente. Porém, o topo do Mãe Catira é completamente coberto por uma vegetação de pequeno e médio porte, com árvores de até 2 metros de altura e o que sobra é um cantinho mais ao lado para os montanhistas curtirem o visual logo depois da entrada para o Pico do Sete.
Após esta parada no topo para tirarmos algumas fotos, descemos mais um pouco até uma clareira em que havíamos avistado na subida, onde seria possível fazermos um lanche tranqüilo. Nesta clareira tivemos uma nova surpresa; o Rodrigo não havia trazido nenhum lanche ou comida, então tivemos que dividir tudo o que tínhamos, o que, no momento, foi suficiente a todos e não nos deixou com fome. Lanchamos, filmamos, fotografamos, fumamos, conversamos e demos risada da empreitada, sabendo que a volta não seria nada fácil.
Após o descanso, começamos a descer do cume, só que nesta parte a coisa fica meio confusa. O pico Mãe Catira está se fechando, muito poucos montanhistas vão por aquelas bandas. No caminho vimos muitas pegadas recentes, porém não sabíamos se eram de palmiteiros ou mantanhistas. Por ele ser de pouca visita, as trilhas aos poucos estão sendo tomadas pelo mato lateral, tornando um pouco confusa a descida, pois havia várias bifurcações que não levavam a lugar algum, outras nos levavam até o despenhadeiro à frente onde estávamos. Logo notamos que as pessoas que sobem o Mãe Catira se batem na volta, abrindo outras “pseudotrilhas” que só servem para confundir as pessoas que a seguem, pois a uma certa hora, parecíamos que estávamos andando em círculos, o que é comum quando as pessoas se perdem na mata.
Superado este obstáculo, começamos a descer em um bom ritmo, e em uma hora e quarenta minutos e alguns tombos chegamos à base. Ao chegar, notei que estávamos bem cansados e propus que ficássemos umas ½ hora para dar uma boa descansada. Porém, ao pegar as bikes, o Bizoto notou que meu pneu traseiro estava furado e então novamente começamos a agilizar a troca, porém, como da outra vez, não tínhamos as chaves necessárias que só conseguimos com a ajuda do Espalha-Brasa.
Na volta resolvemos ir pela estrada velha. Nosso ritmo é bom, creio que 20 km/h na estrada de asfalto e entre 10 a 15 km/h em trilhas de chão, porém esta estrada parecia que não tinha fim. A medida em que ia escurecendo pedalávamos mais rápido; subida, descida, trechos de pedra solta, mas o pior é que nunca chegávamos a tal encruzilhada que nos levaria a Quatro-Barras. Ao final estávamos a todo gás e pedalando em pleno escuro, somente sendo auxiliado pelo brilho da Lua crescente. Às vezes víamos uma pequena luz de poste que nos deixava animada, porém a animação durava pouco, pois quando se passavam alguns postes voltava-se ao crepúsculo anterior.
A pira durou uns 22 Km e umas duas horas até chegarmos ao contorno leste (BR 116), faltando apenas 16 km para chegarmos a BR 277 onde pedalaríamos mais 13 km para chegarmos em casa. Este trecho me pareceu até pior que o anterior, pois o cansaço, o frio e o pouco alimento que ingerimos no dia já nos havia esgotado todas as forças. A minha refeição naquele dia tinha sido apenas dois sanduíches, uma coca, um terço de uma banana e o mesmo de uma barra de cereal. Quando entramos na BR 277 o Rodrigo já estava vendo miragem de postos de gasolina: “É um posto”, “eu vi a luz, é um posto...” “não Rodrigo é o IAP”. “Agora é um posto não? Vejam as luzes...” “não Rodrigo, é uma escola...”.
Pois bem, a trip não foi tão foda assim, não foi violenta, mas sim puxada, pesada e exigia um bom preparo físico. A mistura de bike com montanhismo é uma das melhores coisas que já fiz e com certeza pretendo fazer novamente, porém, se for montanhas de porte (Paraná ou Marumbi) eu aconselho que se leve barraca para se ter uma boa noite de descanso. Também aprendemos algumas coisas como nunca esquecer a comida em casa (né Rodrigo), ou não deixar de levar ferramentas para todas as bikes, pois sempre levávamos e nunca dava nada, e é só não levar uma vez para que imprevistos aconteçam.